segunda-feira, 11 de abril de 2011

Hong Kong 2010 - 3

Continuando na direcção do coração de Central District, é impossível deixar de reparar no invulgar HSBC Building.
Sem uma estrutura de suporte central, este edifício de 180m é composto por cinco módulos empilhados em V, previamente construídos em aço no Reino Unido.
Até à data, o edifício mais caro de Hong Kong - cerca de 670 milhões de dólares - o seu aspecto tubular, com as enormes colunas e vigas de aço expostas, faz lembrar uma construção Lego ( daqueles mais técnicos, claro ).

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100 metros e estou no cruzamento de Central ( C ) , talvez o mais representativo entroncamento de Hong Kong, com um constante fluxo de trânsito e pessoas à espera do verde semáforo.
11:30 e já se vê mais gente nas ruas...

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Não perco muito tempo aqui, é a típica zona das grandes lojas e grandes marcas, muita gente em pouco espaço.
Como estou ao nível da rua noto também alguma poluição do trânsito, e está na hora de seguir na direcção do grande falo. 


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O focking IFC2, com os seus digníssimos 420m é o dominador absoluto da skyline de Hong Kong Central.
Inacreditavelmente, infelizmente, não possui um observatório público... 

A super-estrutura IFC2 é parte do complexo IFC, situado acima da estação MTR Hong Kong.
Quatro edifícios ultra-modernos que acomodam o Four Seasons HK, infinito espaço para escritórios e uma extensa zona comercial.
Extensa e insuportável, para quem como eu odeia shopping centers e afins....

Multidões enchiam o complexo, decorado com a opulência digna de um território cujos bolsos não têm fundo.
Afinal existe Natal em Honk Kong, é a verdadeira festa consumista, topo de gama!

Tão depressa entrei, como tive que sair... 
Não foi para ver consumismo em massa que vim a Hong Kong, bastava ter-me ficado por Portugal.
A grande diferença é a alegria e a pujança económica que se sente nas zonas comerciais de HK, na cidade em geral.
Impressiona!

De volta às passagens aéreas, em direcção ao próximo ex-libris de Hong Kong: o Star Ferry ( D )


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Mais um exemplo de organização no sistema de transportes, os cais de Hong Kong estão alinhados em frente à estação MTR Hong Kong, e ao IFC.
Piers das mais diversas companhias e para os mais diversos destinos.
Um pouco mais afastado - em frente às torres do Shun Tak Centre - encontra-se o Macau Ferry Terminal e respectivo heliporto.

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O Star Ferry Central Pier é o principal cais de transporte de passageiros que cruzam Victoria Harbour ( o canal de Hong Kong ) em direcção a Kowloon.
Fundado em 1888, o Star Ferry transporta 70.000 pessoas diariamente, 26 milhões de passageiros por ano.
Mesmo tendo em conta que as margens estão ligadas pelos túneis subaquáticos do MTR e de duas estradas, muita gente continua a eleger o Star Ferry como o meio privilegiado de passar Victoria Harbour.

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Os barcos são básicos e funcionais, nada de luxos desnecessários para viagens de 5-10 minutos.
Também de salientar a sempre benvinda liberdade a bordo, posso andar por onde me apetecer, saltar de bombordo para estibordo e da proa para a popa! 

O preço da rota principal entre Central ( Hong Kong ) e Tsim Sha Tsui ( Kowloon ) é de 0.20€.
Existem mais algumas rotas, mas esta é a verdadeira, a tradicional e iconográfica experiência da qual ninguém abdica.
Entre as 06:30 e as 23:30, com uma frequência que varia entre 6 e 10 minutos, o Star Ferry é "o maior"!

Cá temos um magnífico exemplar desta raça tão nobre:

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Aplausos! 


Passado o maravilhoso do Octopus Card ( que tem os seus torniquetes dedicados ), é só aguardar na zona de espera.
Nada de luxo, um ou dois bancos de madeira e talvez umas máquinas de bebidas....
A diversidade cultural e étnica continua em grande, gente de todas as raças, bolsas e credos, é parte do espectáculo.
Em breve, chega a hora de embarque, abrem-se os portões e lá vai o povo.

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Um momento inesquecível!
Nem todo o cinzentismo deste planeta pode retirar a emoção da primeira travessia do canal... 


Kowloon


Chegado a Kowloon, cais de Tsim Sha Tsui ( só para decorar estes nomes, é uma brincadeira......  ), já só tenho olhos para o próximo objectivo, traçado meses antes de pisar Hong Kong:

http://www.sky100.com.hk/sky100-hong-kong-landmark.php
A diferença é que em 22 Dezembro de 2010, este mesmo site referia a abertura do observatório para um pouco fiável "final quarter of 2010".

Portanto, pés a caminho que o dia avançava rapidamente e ainda havia muito que ver.
Meia hora de caminhada, uns 2,5km até à torre prateada de quase 500m de altura, o International Commerce Center!
E só não é ainda mais alto ( o chumbado projecto inicial era de 574m ) porque em Hong Kong, as leis não permitem que os edifícios sejam mais altos do que as montanhas circundantes! 

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Saí do cais, olhei à minha volta e... fock!! 
Se eu achava que tinha muita gente do lado de Hong Kong, então aqui é que me caiu o queixo!
Muito movimento em todas as direcções, muita gente feliz a passear e a aproveitar o dia de Natal.

Como um gajo nunca tem bem a noção do trajecto ideal, até ser confrontado com a realidade....
Optei pela infeliz decisão de atravessar um colossal shopping ( Maritime Square ) que se situa em frente aos cais dos grandes Navios de Cruzeiro.
O horror de procurar uma saída ( na direcção do ICC, claro ) e não conseguir, andar às voltas em semelhante antro comercial........ 
Disse mal da minha vida, foram uns longos 20 minutos de sofrimento, até por uma saída de emergência tentei fugir, mas sem sucesso.

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Where's Wally? 

Enfim, lá me consegui arrastar para uma rua que passa debaixo do complexo.
Impossível deixar de reparar nos motoristas em viaturas de luxo a "largar" famílias abastadas.
E os respectivos porteiros sempre ao serviço...
Luxo e muito dinheiro em Hong Kong! 


O ICC é o macho alfa de toda uma zona em profunda remodelação.
O projecto final prevê, além da torre, uma série de enormes edifícios para habitação ( Hong Kong style! ), parques e zonas comerciais absurdamente grandes ( HK style...  ).
Tudo isto construído estrategicamente por cima da estação MTR Kowloon, a mais importante da rede - a par de MTR Hong Kong - porque são intermodais com o Airport Express.
Não esquecer que essas duas estações oferecem o conveniente serviço de "City Check-in", que permite passar mais tempo na cidade sem a preocupação do check-in no aeroporto.


Em Hong Kong, a construção não pára, muita remodelação em ambas as margens do canal.
A crescente procura de espaço para escritórios, comércio, serviços e habitação exige que o planeamento e replaneamento sejam constantes.
Sim, impressiona porque se sente ali o poder imenso da China. E assusta. 

Como toda a área estava em obras, a navegação até ao edifício foi algo problemática.
Ainda nem existiam passeios e o trânsito era encaminhado através de "ruas" improvisadas, numa rede algo confusa.
Só não presenciei um atropelamento por um triz, uma senhora uns metros à minha frente ia sendo colhida por um "acelera" que se julgava - talvez - numa pista de kart improvisada.

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Depois de todos os ziguezagues e cansado de olhar para todos os lados antes de atravessar ( em HK, o trânsito circula pela esquerda... quando calha! ), lá desaguei nos monstros de aço e betão.

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Não sei como se chama, mas na base desta besta há mais um mega-shopping center..... para os interessados!

E o belo do ICC:

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Enquanto me dirigia para o edifício, juntei-me a uma dezena de trabalhadores da construção civil, certamente saídos de um intervalo para o almoço.
Achei piada ao contraste: eles com as fitas-métricas, os níveis e os martelos para trabalhar e eu com a minha DSLR para fotografar o resultado do trabalho deles.... 
E fomos todos juntos até à portaria.
Aí, o segurança deve ter percebido que eu não pertencia ao grupo...  ( what gave it away? )
Deve ter pensado "olha outro enganado pela MERDA do nosso site", porque ele já tinha a resposta na ponta da língua:
"Only in May 2011!" disse do interior da cabine, com simpatia.





Só confirmou as minhas suspeitas... as minhas certezas!
Eu é que me agarro a qualquer ponta de esperança, quando me interessa acreditar no altamente improvável.
E interessava-me de facto subir aos 410m do observatório, para ter a vista gloriosa de Hong Kong... 
Adoro observatórios, adoro visitar grandes edifícios e fotografar lá de cima tudo em todos os ângulos possíveis e imaginários.
É uma das minhas grandes taras!


E agora?!?
Um dos meus motivos de interesse na viagem, por água abaixo!
Olhei em meu redor, e de imediato a sinalização da MTR Kowloon ditou o itinerário alternativo.
Não queria fazer a desinteressante e cansativa caminhada de volta.

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A alternativa era subir até Nam Cheong e depois mudar de linha para East Tsim Sha Tsui...
Objectivo?
Hong Kong Avenue of Stars

Como o nome sugere ( ou talvez não ), Avenue of Stars é o passeio da fama das estrelas do cinema de Hong Kong.
No entanto, não é uma avenida, mas sim um passeio marítimo com vista para Hong Kong.

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Muita gente cruzava o passeio, a habitual cacofonia de idiomas que é música para os meus ouvidos.
Nada de Português, diga-se...


Levo a DSLR ao pescoço, daí o tremer da filmagem.
Enganei-me no Tony Leung, não era aquele..... 


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...mas sim este, ao lado dos preferidos de muitos cinéfilos!

Uma série de estátuas que homenageiam o cinema estão dispostas ao longo do passeio, sempre aproveitadas pelos inúmeros visitantes para interacção e respectivas fotografias.
O ponto onde se concentra mais gente é na estátua de Bruce Lee, com o skyline impossível de HK como pano de fundo, domina o imaginário de multidões.

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Alguns restaurantes, cafés e gelatarias espalham-se ao longo dos 200 metros da Avenue of Stars.
Depois de ter visto todas as estrelinhas de todos os meus actores favoritos ( a sério!  ), deixei as estrelas e voltei-me para a realidade de Kowloon.

Ao contrário de Central Hong Kong com os seus problemas de espaço a forçarem a verticalidade urbana, Kowloon apresenta uma estrutura mais convencional.
Considerada por muitos como a verdadeira Hong Kong, Kowloon city é muitas vezes maior do que Hong Kong.
Além de ser maior, é também progressivamente menos turista conforme se avança para Norte, onde as Tríades ainda operam.

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Mais uns 3km de caminhadas, só para ter um cheirinho a Kowloon.


Precisava de um cabo micro-usb para o meu smartphone, pois na altura de encher a mala coloquei 2 ( dois! ) mini-usb por engano.... 
Boa, estar precisamente no local do planeta com a maior densidade de entulho electrónico!

Contornei o passeio de volta ao cais e comecei daí a subida pela Salisbury Road.
Do lado direito, seguem-se alguns museus e um centro cultural, passeios largos com amplas zonas a interligarem os espaços culturais.
À esquerda, a rua começa com o 1881 Heritage, um conjunto de edifícios ( alguns dos mais antigos sobreviventes ) que estão agora ocupados por um hotel e várias zonas comerciais e de lazer.
Pouco depois, surge o imponente Hotel Peninsula.
Raras vezes vi tantos carros de luxo e exóticos, como em volta deste hotel.
Deve ser mesmo para a minha bolsa, claro...

Entre o Peninsula e o Sheraton HK, começa talvez a mais emblemática rua de Kowloon, Nathan Road.
Pois claro que enfiei logo por ali.
Logo, que é como quem diz, para atravessar a estrada só através de uma passagem subterrânea, com um shopping subterrâneo, claro....
Estes gajos pensam em tudo para sacar uns cobres.
E foi aí que aproveitei para mandar um Big Mac para o estômago, 3€.

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Nathan Road, finalmente....
Comecei a correr as lojas em busca do maldito do cabo e não demorou muito até arranjar um. 10€, nada mau.
De notar que aqui se encontram muitos Indianos e Paquistaneses à frente de lojas minúsculas, mas com quatro ou cinco pessoas sentadas à espera de clientes.
Aposto que vivem todos à custa do negócio, talvez como os Marroquinos no sul de Fuerteventura.......

Aqui encontrei uma das pragas que dificilmente suporto, que são os "captadores" de clientes, habitualmente estão no passeio em frente às lojas para as quais trabalham.
Ainda a 100m de distância, noto que um desses personagens já me "captou"... 
Lá vou eu nas calmas, à espera da inevitável abordagem.
"Um fato, senhor?"
.........
Aceno com um sorriso, que não, e avanço.
Avanço... meia dúzia de metros. Porque aparece logo outro a querer vender-me nem sei o quê...

Começo a aborrecer-me, estou a pé desde as 06:00, tenho 12 a 15km nas pernas, a fome começa a apertar, e sei que tão longa é a rua como a lábia e insistência dos vendedores.

A gota de água não tardou a transbordar, embora de uma forma caricata:
"Hello sir, do you need a suit?"
...sempre em andamento, sorri e apontei para a minha roupa casual. "Mas o que se passa com estes gajos e os fatos?!?" pensei...
"How about a watch?"
Mais uma vez sorri, e mostrei o pulso despido de entulho, como eu gosto.
"Can I get you anything?"
...não respondi, atravessei uma passadeira de peões.

Olho uma última vez para o persistente vendedor, já na "segurança" da distância, e ele grita-me de braços abertos, num jeito desesperado:
"What are you looking for?"

Aí, arrancou-me um sorriso rasgado! 
Achei engraçada a pergunta porque - pensei filosoficamente - "nem eu sei, amigo!".
E lá ficou o artista com o seu estilo de "providencio o que quiseres", gel no cabelo melado, camisinha à proxeneta e bigode a condizer. 

Mas pronto, já tinha esgotado a minha paciência.
Poucos metros à frente, atravessei para o outro lado da rua e desci em direcção a Tsim Sha Tsui.
Serpenteando entre as ruas e ruelas, tomei a rota mais longa possível até ao cais. :idea:

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Deixei as coloridas e pulsantes ruas de Kowloon.
Estava estourado.

Ainda passei lá pela sapataria de bairro ao lado do hotel, onde comprei os bons dos chinelos de banho ( 10€ ).
Nem me lembro onde fui jantar nessa noite, só sei que quando aterrei na cama, dormi como um menino.