1- Hong Kong ( Wan Chai to Central )
2- Kowloon
06:00, o telemóvel toca o meu tema de férias.
Sim, eu tenho um toque pré-definido para férias, é o "Calm" da Nokia, que transferi de imediato para o meu HTC quando mudei de smartphone.
Descobri-o por acaso enquanto escolhia um toque agradável para o despertador, e desde 2007 que acordar ao som deste toque é sinal de que estou em viagem!
Ano após ano, o ringtone está a adquirir um estatuto mítico, tantas as boas memórias que me inundam a mente ao ouvi-lo...
06:00, habitualmente é a hora a que me levanto nas viagens de férias.
Positivamente magnetizado pelo ringtone, salto da cama, afasto as cortinas e....
"Ainda é noite..."
Não me tinha ocorrido pensar que em Hong Kong em Dezembro o sol nasce perto das 07:00.
Deixei as cortinas abertas e deitei-me na cama, aguardando pela luz do dia e torcendo para que uma manhã gloriosa desacreditasse as deprimentes previsões meteorológicas.
O facto é que a noite deu gradualmente lugar a uma aurora cinzentona, escura, mesmo feia.
Aquela hora de espera apagou o meu ímpeto, adormeceu os músculos ainda queixosos da estirada dos dias anteriores de viagem.
Cansaço, algum jet-lag e perspectivas de um dia cinzento, mistura explosiva!
De súbito, apeteceu-me simplesmente mandar tudo pró ca*alho, cerrar as cortinas, e enfiar a cabeça no travesseiro como um menino frustrado e birrento, dormir até ao dia seguinte.
"Rai's partam esta merda, é sempre este azar com o clima........"
Confesso que foi necessária força de vontade e alguns estalos no focinho para que eu voltasse aos eixos.
Banho tomado, desci para o pequeno almoço, que é tomado no bar do 2º andar.
A sala de refeições estava vazia.
Perguntei à empregada se era normal.
"Hoje é dia de Natal, sabe como é..."
"Foda-se, ainda por cima..." - pensei logo - "daí a musiquinha irritante nas colunas", ainda bem que estava num volume muito baixo, graças aos céus!!!
Na minha lógica incompleta, escolhi Hong Kong (também ) por ser um refúgio onde o Natal não seria tão intrusivo.
BIG FOCKING MISTAKE, SIR!
Ok...
O Hotel Ibis North Point tem as suas qualidades e defeitos, mas é digno de louvor o serviço de pequeno-almoço.
Disponibilizam 3 tipos de pequeno almoço, a preços variáveis.
O buffet ( estilo enfarda o que puderes ) está aberto entre as 06:30 (!) e as 10:00, custa 6€.
6€ não é mau, Hong Kong é considerada uma das cidades mais caras da Ásia, comparada - por alguns ignorantes que não sabem o que dizem - às metrópoles Japonesas.
O buffet tem uma variedade aceitável, fruta diversa, croissants e queques, pão de forma normal e integral, bacon e ovos, frango frito e salsichas, manteigas e geleias, queijo e fiambre, sumos ( máquina, claro ) de ananás e laranja, café, chã e leite, e mais algumas coisas que certamente não me lembro.
A qualidade é boa, mas convém dar uma espreitadela no frango, nem sempre bem cozinhado...
Antes e depois das horas do buffet, o bar ( aberto 24/7 ) disponibiliza o vulgar café/sumos com bolos/pão com o que houver.
Excelente para quem gosta de começar o dia bem cedo, e de deixar o hotel já bem alimentado!
Enquanto tomava o pequeno-almoço ( ou melhor, OS pequenos almoços ), o meu olhar atravessava a sala, observando a cinzenta manhã que me esperava.
A vista não é esplendorosa, em frente ao hotel há um parque de estacionamento e um cais de mercadorias, com alguns barcos atracados.
O que domina a paisagem é uma via rápida elevada, um viaduto assente na baía, exemplo óbvio da falta de espaço em Hong Kong.
Muito ao longe, do outro lado da baía, gigantescos edifícios e bairros residenciais delineiam as suas silhuetas através do nevoeiro matinal.
Vamos embora, que já são quase 09:00 da manhã!
Saco da DSLR, Octopus Card, cartão MB, Keycard do hotel, Smartphone, fotocópia do Passaporte e alguns trocados no bolso.
E pastilhas para a garganta ( os eternos Halls ). Montes.
Ah, esqueci-me de referir que não houve rede móvel em Hong Kong para mim.
Nada de importante, até foi uma benção!
Entrei no MTR com destino a Wan Chai, quatro estações a Oeste.
Embora mais calmo do que o habitual, já se via muita gente nas estações e nos comboios.
O MTR é um caleidoscópio cultural, uma amostra da realidade de Hong Kong.
Numa dezena de metros, uma dezena de etnias, uma cacofonia de idiomas.
Simplesmente, a Londres do Oriente.
Não se vêm Polacos ou Turcos, mas Indonésios, Filipinos, Tailandeses,...
Toda a gente com Smartphones de topo, montes de iPhone 4, muitos 3GS e uma panóplia de Android.
Ao contrário dos metropolitanos de outras grandes metrópoles, o ambiente a bordo do MTR é descomplexado e relaxado.
Muita gente conversa e ri, não se vêm gangs ou multidões silenciosas.
Saí em Wan Chai.
O plano: percorrer a pé a zona central da cidade de Hong Kong.
Em Wan Chai... bem... Limitei-me a seguir as multidões.
Aliás é o que eu faço sempre que não tenho bem a ideia para onde ir...
Só queria que me levassem à beira-mar, para ter uma vista decente sobre a baía e começar a disparar...
De passagem aérea em passagem aérea, de edifício para edifício, fui conduzido ao Centro de Convenções de Hong Kong ( HK Convention and Exhibition Center ).
Logo à entrada do magnífico edifício ( a mim faz-me lembrar uma enorme tartaruga vista de cima... ) o cartaz: "Asia Game Show 2010". :|
Por esta é que eu não esperava........ e agora?!?
Mesmo sendo eu o tarado assumido por videojogos, tão cedo não vou esquecer o trauma do TGS10 ( Tokyo Game Show 2010 ).
Afinal o céu até estava cinzento e era Natal e mais umas desculpas..... não chegaram para que eu encarasse com seriedade a ideia de me enfiar no certame.
Lembranças de multidões de nerds em fúria, proibições idiotas de tirar fotografias e filas intermináveis para jogar seja o que for...
Uns meses mais tarde, descubro isto:
"On 25 December 2010, Producer Kazunori Yamauchi appeared on stage at Asia Game Show held at the Hong Kong Convention & Exhibition Center."
http://www.gran-turismo.com/hk/news/d11288.html
Bem, mandei pela janela a oportunidade de ver o lendário criador de Gran Turismo. Boa!
Adiante.
Cruzei o Centro de Convenções, que é de facto um edifício grandioso a nível arquitectónico e altamente funcional.
Uma miríade de pisos organizados e interligados por muitas dezenas de escadarias rolantes, muita informação em espaços amplos e iluminados pelas generosas janelas.
Muitas sub-secções fechadas ao público, mas sempre com alternativas de navegação.
Embora o meu objectivo fosse apenas atravessar o edifício, fiquei deveras impressionado com a qualidade demonstrada.
Finalmente, a baía de Hong Kong!!!!!!!!!!!!!!!
Um dos locais mais fotografados do planeta, um dos skylines mais iconográficos do mundo, ali à frente dos meus olhinhos....
Saquei a minha amiga 500d, munida da pesadíssima mas muy prática e polivalente 18-250, e disparei o primeiro de 6000 takes que trouxe desta viagem:
A margem sul da baía, o centro da cidade de Hong Kong, na ilha com o mesmo nome. O edifício dominante é o gigantesco IFC2 ( International Finance Centre 2 ).
A península de Kowloon, na margem norte da baía, com o ainda mais gigantesco ICC ( International Commerce Centre ) em grande plano.
Como podem testemunhar, o dia estava radiante, sol magnífico....
Nada ideal para a fotografia, mas muito convidativo para uma caminhada dali até ao "sopé" do IFC2, local onde se situam a maioria dos cais de passageiros em Hong Kong.
Cerca de 4km, especialmente agradáveis num dia de Natal, com o trânsito bem menos intenso e menos gente nas ruas.
A- HK Convention Centre
B- Bank Of China Tower
C- Central
D- Star Ferry Pier
Nas zonas mais nobres e centrais de Hong Kong ( especialmente entre as MTR Wan Chai e Central/Hong Kong ), grande percentagem do trânsito pedestre é efectuado em passagens elevadas que interligam edifícios de escritórios, zonas comerciais, parques de estacionamento, zonas verdes e estações de transportes, passagens essas que estão a ser progressivamente isoladas como protecção contra a poluição, que atinge níveis perigosos em determinadas horas.
Com a popularidade destas passagens, elimina-se a necessidade de passeios largos em algumas ruas, por vezes nem existem sequer.
Mais uma particularidade relacionada com a omnipresente falta de espaço.
Sendo assim, alguém que está habituado à mobilidade em cidades convencionais sente um ligeiro impacto quando confrontado com a falta de passeios....
Saí do Centro de Convenções com o próximo destino em mente, o mais emblemático e querido edifício da cidade, o Bank of China Tower.
Mas a navegação pedestre requer alguma habituação, pelo que ainda andei aos ziguezagues pelos passeios e alguns parques, até me render ás evidências... :mrgreen:
As zonas verdes são mais do que as possíveis numa cidade apertada entre o mar e o Victoria Peak, o íngreme maciço central da ilha de Hong Kong.
São locais aprazíveis, imaculadamente limpos e seguros, onde a população aproveita para relaxar.
Aos Domingos e feriados ( como o Natal ) estão repletos de imigrantes, que aproveitam o dia de folga para lá fazerem piqueniques e convívios.
Fui abordado por um monge ( ou vestido como tal...... como?-) ) que me pediu uma contribuição.
Em troca, oferecia-me uma pulseira ( ou seria um fio? nem sei... ), uma miniatura de um santo qualquer, e eu poderia assinar o meu nome numa declaração ( uma impressão foleira em A4 ) em prol da paz no mundo!
Achei altamente ... e ofereci-lhe 100HK$ ( 10€ ), mas não é que o "santo homem" começou a regatear e a pedir 200HK$?!?
Ehh pá - pensei eu - é Natal e tudo, ok vais ter sorte.... E lá despachei o gajo.
Subo a escadaria para mais uma passagem aérea, e aparece-me logo outro igual!
"Hey, I already gave some money to your friend downstairs..." disparei logo, mostrando a pulseira/fio/qualquer coisa.
Ele pergunta-me, algo curioso ou desconfiado do "colega de trabalho":
"Oh, I see. Could you please tell me how much did you give him?"
"200HK$"
Agradeceu-me e desapareceu da minha frente.
É o cúmulo, estes gajos parecem controlar-se uns aos outros........
Mais uma dúzia de passagens e acabei por desaguar em frente do iconográfico Bank of China Tower ( B ).
Além do famoso edifício, esta zona exibe outros exemplares arquitectónicos de renome, como o Lippo Centre, o HSBC Building,.....
As torres do Lippo Centre à esquerda, Bank of China Tower ( 307 metros ) à direita.
Manhã de Natal, pouco trânsito e uma cidade a meio gás.
Mesmo imaginando que seria impossível ( dia de Natal...... ) fui perguntar se o observatório público e grátis ( Bank of China ) do 43º andar estava aberto.
Nada disso - informou-me o segurança - só a partir de terça-feira, dia 28.......
Como?!?
Fiquei-me então pelo exterior, disparando clicks em todas as direcções.
Mesmo com uma luz de merda, um fotógrafo não se contém em zonas tão ricas para criar enquadramentos de todos os tipos e feitios.
Acho que o Bank of China, com os seus múltiplos ângulos, é o edifício que eu mais fotografei até hoje.
