segunda-feira, 11 de abril de 2011

Hong Kong 2010 - 1

Hong Kong 
Dezembro 2010




Em Dezembro 2010 cumpri um sonho antigo:
visitar o território de Hong-Kong, uma cidade que me fascinava desde criança.
...quiçá devido ao outrora muito popular "made in Hong-Kong", ou à confusão que me fazia o facto de Hong-Kong ter um estatuto exótico?!?



Quinta-Feira, 23 Dezembro de 2010

A viagem de ida

Já me aconteceu de tudo poucos dias antes de viajar ou durante as viagens...


Em plena crise da neve nos aeroportos da Europa central, o meu itinerário era:
Porto - Frankfurt - Shanghai - Hong Kong

Saída do Porto às 06:05, Lufthansa.
Escusado será dizer que pouco ou nada dormi nesta noite, com a obrigatoriedade de acordar às 04:00......

A avalanche de notícias de cancelamento de vôos e aeroportos encerrados na semana da minha partida, fizeram com que eu calmamente me fosse mentalizando para o pior: desistir da viagem. Mas só o faria quando esgotadas todas as possibilidades, até ao fim, contra tudo e contra tudos. 
Aliás, até já tinha reservado duas noites um quarto de hotel em Frankfurt, caso fosse necessário fazer um compasso de espera para prosseguir ou... para regressar ao Porto derrotado.

Ditou o destino que a sorte me sorrisse.
Um dia antes de eu viajar, uma aberta nas condições meteorológicas permitiu a limpeza das pistas e o escoamento dos milhares de passageiros retidos em Frankfurt.


Frankfurt estava coberto de neve, julguei-me a aterrar num país Escandinavo.
Mas as pistas estavam desobstruídas, os corredores desimpedidos, a calma reinava aparentemente.
O vôo Porto-Frankfurt na Lufthansa foi muito agradável, uma companhia aérea que saltou para a lista das aprazíveis.

Na realidade, esperava chegar a Frankfurt e ver horrores, mas... nada!
Nada fazia crer que o verdadeiro caos estivera omnipresente dois ou três antes.
Só vi as camas de campanha arrumadas num canto, porventura à espera de reutilização, caso o clima piorasse de novo.


Do aeroporto de Frankfurt, não tenho as melhores memórias.
Achei confusa a navegação, os balcões de check-in dispersos, wi-fi pago, um café enorme em plena zona de check in e de passagem, corredores que atravessam zonas de embarque ( como no terror do Terminal 2 em Barajas - Madrid ).
Nitidamente, um aeroporto antigo que necessita de uma remodelação de forma a melhorar a qualidade de vida.


Check-in


Chego ao balcão do check-in, umas duas horas antes da abertura do respectivo balcão.
Já conhecia o horror de viajar com Chineses ( já os tinha aturado numa viagem Madrid - Beijing ), mas desta vez foi o cúmulo.
Hora e meia (!) antes de abrirem o check-in, começaram a entulhar o espaço com a sua habitual falta de organização, respeito mútuo e educação.
Para eles, a noção de fila indiana é algo de novo, que a muito custo tem sido induzido, exigido, ameaçado até...
Balbúrdia total, e ainda faltavam horas para o vôo...
Eventualmente acabei por me juntar à fila, quando esta já serpenteava pela apertada zona de balcões, dificultando o trabalho aos seguranças e staff das outras companhias.
Duas extenuantes horas foi o tempo que me demorou a fazer o maldito do check-in!
O sistema informático estava lento, erros atrás de erros, foi até necessário tratar da minha conexão Shanghai - Hong Kong num outro balcão...
Resumindo: as cinco longas horas de que eu dispus em Frankfurt, tornaram-se subitamente apertadas.
Só me deu tempo de pegar nas tralhas, dirigir-me à zona de controlo de passaportes e embarque, e passados poucos minutos já estava a entrar no avião.
Vá lá que acederam ao meu pedido, um lugar à janela, algo que não dispenso. 


China Eastern Airlines

Considerada uma companhia aérea com 3 estrelas ( escala de 1 a 6 ).
http://www.airlinequality.com/StarRanking/3star.htm

O Airbus A330 era do mais básico que havia.
Sistema de entretenimento, só aquele do séc. passado ( meia dúzia de canais musicais, a maioria em Chinês, GREAT!  ).
A comida... A comida foi a pior que eu já provei até hoje a bordo.
O prato principal assustava o olhar e acautelava seriamente o paladar.
A variedade de dois pratos fez com que eu comesse frango ao almoço e... frango ao jantar, pois o peixe já tinha esgotado.
Ainda bem que eu não ando a dormir e trago sempre as boas das bolachinhas e a garrafa de água.
Nestas viagens de longa distância, são indispensáveis.

É uma companhia a que só voltarei a recorrer em caso de necessidade.
Poder-se-ia dizer que está de acordo com o preço e tal, mas... nada disso.
Já voei pela Air China ( Beijing, Tokyo ) e pela Emirates ( Osaka, Tokyo ), a preços semelhantes mas com qualidade superior em todos os aspectos.

Image Hosted by ImageShack.us










Sexta-Feira, 24 Dezembro 2010


11 horas depois, aterrei em Shanghai, no Pudong International Airport, o ex-libris da zona.
Não se conseguia ver nada durante a aterragem, um nevoeiro intenso que só aliviou segundos antes do trem de aterragem pisar a pista.
Aqui e ali, pequenas zonas com neve...

Eram 8:45, 24 Dezembro.
O aeroporto estava praticamente deserto.
Tão deserto que a própria secção de controlo de passaportes para os transfers estava encerrada (!).
Ficamos todos ali empancados, e ninguém sabia o que fazer, até que algum mais atento reparou numa folha A4 espetada num quadro, com instruções para esperar ali. yes-)
Eventualmente, lá surgiu uma simpática senhora que começou a chamar pelos passageiros conforme os destinos.
O sotaque manhoso e graça da mulher colocou de imediato um bom ambiente no espaço ( gelado ).
Lá prosseguiu o controle de passaportes, blá, blá, blá....

Image Hosted by ImageShack.us








( o smartphone estava todo marado, desculpem a má qualidade do vídeo )


Na linha do megalómano aeroporto internacional de Beijing, Pudong é um aeroporto moderno com espaços imensos preparados para acomodar legiões de passageiros.
As estruturas arquitectónicas exibem a pujança económica da China actual, a decoração de Pudong é dominada pelas cores Portistas.
O luxo e ostentação não são comparáveis a Beijing, esse sim o verdadeiro espalhafato em forma de aeroporto.

Carregadores públicos para telemóveis, água grátis em bebedouros espalhados por todo o lado, casas de banho com fartura e sempre impecáveis.

Também como em Beijing, o aquecimento não é uma prioridade, e as madrugadas ou manhãs são geladas, verdadeiros frigoríficos.
Quem vier sem roupa apropriada, distraído ou desconhecedor das condições, vai passar um mau bocado. Não foi o meu caso.
Aconselha-se algumas idas à casa de banho, pelo menos ali é mais aconchegado... 

Wi-fi gratuito, embora a rede caia ocasionalmente.
Facebook e alguns sites da Google estão banidos na China Continental.
Com certeza que a lista será bem mais extensa, mas só reparei nestes.
No entanto, consegui utilizar o Gmail.

Rede móvel é que nem cheirá-la.
Já me tinha acontecido em Beijing, meses antes.
Pensei que talvez fosse devido ao telefone meio datado ( Nokia N73 ) mas o meu novíssimo HTC Desire também não marchava.
Afinal, também só estava ali de passagem, certamente que em Hong-Kong a rede móvel voltaria em força. Claro.... 


Cerca do meio-dia, hora de embarcar no A321 rumo a Hong-Kong.
O avião estava a 70% da capacidade, pelo que troquei o meu lugar ao lado de uma formosa Chinesa, por um assento à janela.
Ainda pensei duas vezes, pois a moça não parava de sorrir e eu adoro trocar impressões com outras culturas.
Apesar de estar na posse de um passaporte Chinês ( sim, eu espreitei ), a simpática jovem parecia proveniente do Sudeste Asiático, com uma tez morena e uns traços nada característicos da etnia dominante na China.
Mas após umas tentativas falhadas de estabelecer uma plataforma possível de contacto ( o Inglês não era o forte da menina e o meu Chinês é muito bom ) e quando reparei que o sorriso da menina era mais cultural do que intencional, troquei educadamente de lugar e fui colar o nariz à janela, tentando vislumbrar o skyline de Shanghai.
Nada, porque desta vez fiquei do lado do Mar da China.....

Viagem curta ( 2:30 ) e tranquila, sempre a espreitar o estranho sorriso ( parecia-lhe colado na face ) da minha companhia da frente, afinal da janela só via tons de cinzento...
Aterrei no magnífico Hong Kong International Airport sob um céu cinzento e carregado.
Perspectivas em linha com as tristes previsões da meteorologia, nada que eu não estivesse habituado.
Afinal ( isto é verídico ) nunca passei umas férias, nunca fiz uma viagem em que não chovesse um, vários ou a quase totalidade dos dias.
Mas cansado como estava, só via a hora de me livrar do raio das malas, altura em que verdadeiramente começo a relaxar.

Sendo o melhor aeroporto em que já tive oportunidade de pôr os pés, a fluidez dos passageiros é total.
Controlo de passaportes rápido, recolha de bagagens praticamente imediata, interligação com a rede de transportes uma brincadeira de crianças.

Hong Kong tem um ( ou O ) dos melhores sistemas de transportes públicos do planeta.
Eles gabam-se disso, e com razão.
O Octopus Card está na base do sucesso, é um cartão intermodal que funciona em todas as linhas do metro, autocarros, elevadores, eléctricos, ferrys, supermercados, máquinas de comes e bebes.........basta encostar ao sensor e... já está.
É um verdadeiro porta-moedas electrónico.

Na linha dos Japoneses ICOCA ( Kansai ) e SUICA ( Kanto ), e em menor escala, do Londrino Oyster Card ( pois este fica-se praticamente pelo sistema de transportes ).

Image Hosted by ImageShack.us

Estrategicamente colocado na área de acesso à estação do aeroporto, encontramos o posto de turismo onde para além dos panfletos e mapas gratuitos, vendem diversos tipos de passes, entre os quais o magnífico do Octopus Card.
A menina do atendimento estava bastante antipática, talvez o facto de estar sozinha ao balcão numa véspera de Natal tivesse algo a ver, não sei.....
Sei que o senhor que foi atendido à minha frente, que mostrava nitidamente algum desconhecimento do sistema, foi basicamente enxotado, já que a cachopa não respondia a dúvidas, não queria saber e ponto final...
Hhhmmmmm, vi logo que não estava no Japão, ou essa lambisgóia não durava dois minutos no lugar.
Comigo não teve a menor hipótese, pois eu tinha a lição estudada, sabia o que queria e mai nada!
Pelo menos, não tentou impingir-me um daqueles passes manhosos ( supostamente para ajudar os turistas ) que na realidade são uma bela treta.


Dali, dirigi-me à estação, onde o Airport Express me levaria a Hong Kong.
É um comboio de alta qualidade, com imenso espaço para bagagens e conforto a condizer.
25 minutos de viagem entre o aeroporto e a estação de Hong Kong.

Image Hosted by ImageShack.us

Image Hosted by ImageShack.us








Durante o trajecto ainda tive direito a entretenimento.
Dois putos à conversa, um deles uma verdadeira besta ultra-competitiva, calças pelo joelho, estilo gangsta-de-aviário-filho-de-papá milionário, cujo ego ( nas palavras dele ) era como o "Fucking IFC2"... :mrgreen:
A sério que fiz um esforço para não desatar à gargalhada enquanto o miúdo desbobinava alarvemente as suas últimas vitórias com as "gajas" e outras que tais...
Pensei: será que é destes empertigados que vou encontrar por aqui? 

Cheguei à ( mega ) estação do MTR Hong Kong.
Dali o plano era seguir a pé para a estação gémea, MTR Central.
Sim, o complexo é tão grande que as duas grandes estações estão interligadas entre si.

As indicações não ajudavam muito a quem já viajava há 24 horas sem dormir ( eu não consigo dormir em aviões ).
Meti-me num elevador para a superfície e perguntei a um casal de turistas Ocidentais indicações para a Central Station.
A resposta da senhora, em tom paternalista:
"-You must be mistaken, Hong Kong is the city and the island, you know?
Central is the name of the station you're on."




Image Hosted by ImageShack.us


........

Agradeci, embora a opção de a insultar me passou vagamente pelo cérebro.

Encontrei o meu caminho para a estação pretendida, entrei no MTR ( Mass Transit Railway, o metro de Hong Kong ) e cerca de 15 minutos depois estava em North Point, a minha saída.
As carruagens do MTR têm a particularidade de serem perfeitamente articuladas e unidas entre si, sem portas ou divisões visíveis.
O que resulta num efeito engraçado, já que se vê o comboio a serpentear, ou no caso das rectas vê-se até onde a vista alcança.

As estações do MTR estão muito bem sinalizadas e apetrechadas com ATMs, máquinas de venda de bilhetes e venda e carregamento de cartões Octopus, e pequenos mini-mercados sempre muito úteis para aquelas compras de última hora.
É expressamente proibido comer ou beber a partir do momento em que passamos os torniquetes para as plataformas, e obviamente nos comboios.

Cada estação oferece uma variedade de saídas directas para as ruas ou edifícios circundantes.
Cada saída está identificada com uma letra, seguida de um algarismo.
A letra significa uma área, e o algarismo a saída pretendida.









Assim, lá me dirigi à saída A1, que me leva à Java Road, a uns 30 metros do Hotel Ibis North Point.
Entre a saída do MTR e o hotel, uns três restaurantes e mais alguns negócios...
Um deles chamou-me a atenção de imediato: um restaurante Japonês com preços convidativos.
Hhhhhmmmmmmm.....

Chegado ao hotel, o check in foi rápido e simples.
Tinha pedido o que peço sempre: "High floor, quiet room".
"Vai ficar no último andar!" respondeu-me o funcionário.
"Óptimo" - pensei - certo de que teria obrigatoriamente uma vista gloriosa sobre a baía.
Ainda tive que deixar uma caução de 500$HK ( 50€ ), e aproveitei logo para comprar uma semana de internet ( cabo ) por 30€.

O hotel dispõe de apenas dois elevadores para servir 30 andares, o que por vezes exige alguma paciência.
No entanto, o sistema funciona surpreendentemente bem, ou então pareceu-me, a mim que pouco tempo lá passei.....

O quarto, no 30º andar, com vista maravilhosa para....

 






Para um hotel de 3 estrelas, devo confessar que o quarto é funcional, nada mais, nada menos.
A insonorização não é das melhores, durante duas noites tive como vizinhos uma família de Chineses que faziam um basqueiro inacreditável.
Palavra que estive a um passo de exigir uma mudança de quarto.
Mas os gajos lá se foram embora e o resto da estadia foi uma paz.


A qualidade do quarto sofre imenso na comparação com os hotéis que conheci no Japão, sem dúvida.
Aqui não há chinelos de quarto para ninguém, nem desumidificador/purificador de ambiente, tábua de passar a ferro, internet grátis, já para não falar na casa de banho primitiva, sem banheira e com um chuveiro do séc. passado.
Acima de tudo, achei estranho que nem um despertador tivesse na mesinha de cabeceira.


Não que eu precise dessa entulheira , estou apenas a comparar o que se consegue pelo mesmo preço no centro de Tokyo.
Só tive mesmo que comprar uns chinelos de praia, para evitar problemas ao usar a casa de banho.


Banho tomado, mudança de roupa, vestuário devidamente alocado e documentos no cofre... Desci à rua.
Directo, claro está, ao vizinho restaurante Japonês onde uma simpática e despachada Japonesa me serviu um ramen que me soube pela vida!
Além disso, uma Asahi biru ( cerveja ) também cai sempre bem! 
Grande Ceia de Natal!

Image Hosted by ImageShack.us

Fui às compras da praxe a um 7-Eleven, a obrigatória garrafa de água e algo aparentemente comestível e pouco susceptível de me causar problemas intestinais.
Presenças habituais nos meus frigoríficos de hotel, não vá o diabo da fome atacar a horas impróprias.
Estas viagens ao Extremo Oriente são muito cansativas, pelo que achei melhor ir dormir, recuperar forças para o primeiro dia em Hong Kong!