segunda-feira, 11 de abril de 2011

Hong Kong 2010 - 5

Domingo, 26 Dezembro 2010 ( parte 2 )


Entrei em MTR North Point, Island Line em direcção a Leste, embora ainda sem saber ao certo o que ia fazer durante a tarde...
Simplesmente, como acontece em determinadas cidades do planeta, há locais magnéticos que nos atraem de forma constante e em especial quando estamos indecisos e em piloto automático, zonas com características peculiares que concentram doses misteriosas de energia humana, pontos de convergência e ao mesmo tempo pontos de decisão e de partida.
Locais como Times Square em Manhattan, Shibuya Crossing em Tokyo, Picadilly Circus em London, mas neste caso refiro-me a Central em Hong Kong.

Saí em MTR Sheung Wan, fim de linha e estação privilegiada para aceder aos cais de embarque.
Havia decidido visitar uma das ilhas, faltava-me saber qual...

O sol brilhava e reflectia as fachadas dos edifícios, em contraste absoluto com o cinzento dia anterior.

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À esquerda, o colorido de um barco de pesca e o magnífico ICC.
Em cima, as torres do Shun Tak Centre com ligação ao Macau Ferry Terminal.


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Há empregos para todos os gostos, necessidades ou taras...
Afinal, alguém tem que limpar a coroa do IFC2, não?


De volta à terra, comecei a percorrer os cais, como quem percorre um mercado, em busca do produto mais indicado para a tarde que avançava.
Previamente ( trabalho de casa ) tinha escolhido como opções as ilhas Cheung Chau, Peng Chau e Lamma.
Algo de familiar me chamou a atenção no Central Pier 4...
Fui na recomendação do Chow Yun-Fat:

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Lamma Island


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Mapa de Hong Kong, destaque para a ilha de Lamma.

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Mapa de Lamma, a vermelho o trajecto privilegiado que os visitantes ( eu incluído ) mais interessados em caminhadas não deixam de efectuar.
São 6km entre Yung Shue Wan e Sok Kwu Wan, umas boas 2 horas de caminho.


A tarde convidava a um passeio de barco. Aqui, passando ao lado da pequena Green Island.


A 30 minutos de ferry de Central, Lamma é a terceira maior das 200 ilhas ( mais a Península de Kowloon ) que formam o território de Hong Kong.
Chow Yun-Fat é o seu fruto mais famoso, natural da remota aldeia de Tung-O, e a sua família ainda opera um restaurante na ilha.

Parte significativa da população de Lamma é composta por ocidentais ( expats, de expatriates ), que vieram para este paraíso em busca do idílico regresso à natureza e a uma vida mais simples.
Como resultado da fusão cultural, Lamma tem um ambiente muito característico.

Os cerca de 6000 habitantes da ilha vivem sobretudo da pesca e do turismo, que acorre em massa aos fins-de-semana, vindos de todos os cantos de Hong Kong em busca de tranquilidade e uma boa refeição num dos incontáveis restaurantes costeiros.



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Monte Carlo dos hippies, Yung Shue Wan!

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Proibidos os automóveis nesta ilha ( óptimo, já que nem existem estradas ), a bicicleta é uma alternativa.

Os restaurantes repletos com todo o tipo de peixe e marisco cercam-nos assim que deixamos o cais.
Muitos deles com enormes tanques onde as futuras refeições podem ser apreciadas nos seus últimos momentos.
Impressiona a quantidade de recursos naturais aqui à disposição dos apetites de turistas...
Não me senti particularmente feliz ao ver tantos animais cativos, à espera que alguém os escolha como refeição.
Tenho sérias dúvidas da sustentabilidade natural de semelhante exibição.

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Primeiro os restaurantes, depois as típicas lojas de souvenirs.


Um pouco à frente, surge um templo dedicado a Tin Hau ( a Deusa do mar ), guardado pelos habituais leões de pedra, e decorado com detalhados e belos candeeiros:

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Este é relativamente pequeno e humilde, típico de pequenas comunidades.

A partir daqui, meus amigos, é o caos! 
Ruas que se cruzam e voltam a cruzar, outras que vão dar ao meio de lado nenhum, umas poucas sem saída!
A aparente anarquia na planificação e construção de ruas e casas resulta num labirinto de oportunidades.
Oportunidades para explorar curiosidades em cada canto.

Perdi-me várias vezes nestas ruelas e caminhos e rampas, mas o que é afinal - senão um prazer - perder-me numa área tão reduzida ( e numa ilha... ), com o rebuliço mais ou menos distante dos restaurantes sempre no ouvido?

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A reciclagem e reutilização de materiais para construção é uma realidade em Lamma.
Amontoados de entulho dão uma fraca impressão de limpeza, mas convivem lado a lado com a beleza da vegetação dominante.

Pelo menos em algumas zonas, não existe saneamento público, pelo que alguns esgotos a céu aberto também não abonam a favor da intervenção humana.
A imagem que fica de Lamma é de um caos organizado, com a selva e as habitações abraçadas para o melhor e para o pior.

É pelo meio desta festa para os sentidos que continua o Lamma Island trail.

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Com certeza que estas paragens tão exóticas dariam bons cenários, desde que se limpasse o lixo ocasional...
Não sei quem tem a culpa, se é realmente impossível manter a ilha mais limpa, se são os porcos dos habitantes que se estão nas tintas.
Mas a infelicidade de ver uma ou outra pequena lixeira a céu aberto não alegra ninguém, e não abona a favor da ilha ou do respeitável território de Hong Kong.

A vegetação luxuriante rodeia o trilho até desaguarmos na bonita praia de Hung Shing Yeh.

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Embora sem banhistas, pois embora com um clima subtropical, é Inverno em Hong Kong.
A temperatura anda entre os 15 e os 20º, agradável mas não convidativa a banhos, pelo menos para eles.
Confesso que não me teria importado nadinha de dar uns mergulhos, pois ao experimentar, senti a temperatura da água muito agradável, praticamente morna.

Paradoxalmente, em frente a esta bela praia, está a Lamma Power Station, uma central de produção de energia a carvão.
Construída em 1982, abastece as ilhas de Lamma e Hong Kong.

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Sem dúvida, o monstro nesta ilha de contrastes.

Apesar de que a presença da central até tem o seu quê de estranhamente fascinante e sugestivo, ali em frente a uma praia tão bonita...
No entanto, é sempre bastante fácil desviar o olhar para vistas bem mais apetecíveis.

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A praia tem diversos serviços, um campo de desportos ( fora da praia - claro - como acontece nas praias dos países civilizados ), uma zona para piqueniques e churrascos, o "poleiro" do nadador-salvador, e outros...
Bem grande é a placa que proíbe fumar na praia.
Outro "pormenor" que gostei de ver implementado.
Mas acerca de Hong e Kong e suas proibições, escreverei mais tarde.


A partir da praia, a vegetação que envolve o trilho vai-se tornando gradualmente mais seca.
O caminho começa agora a subir ligeiramente, contornando as encostas e falésias da ilha.

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Junto ao caminho, correm uns tubos, talvez da rede eléctrica...

Como é habitual em Hong Kong, grupos sempre bem-dispostos percorrem os trilhos.
Gente de todas as idades, a desfrutar dos prazeres de uma caminhada à beira-mar.




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Um derradeiro olhar à "abominável" central. E em baixo, o sempre fascinante bambu!


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Ao longe, o Monte Stenhouse, o ponto mais alto da ilha ( 353 metros ).

Engraçado como até numa ilha com baixa altitude, a vegetação muda abruptamente conforme a mesma.
O caminho começou de novo a ficar abraçado pela vegetação.
Estava a chegar ao meu destino.

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Um miradouro característico, com vista privilegiada para Sok Kwu Wan

Na descida para Sok Kwu Wan, recomeçamos a ver algumas casas, pequenos campos e hortas, e até uma escola.
Pergunto-me como será passar aqui a infância, sempre o mar, a selva e as colinas como amigos, vida simples e pacata entregue aos prazeres da natureza, apenas perturbada pela passagem dos visitantes...

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Sok Kwu Wan é um porto de abrigo, privilegiado pelos caprichos da geografia que o acolhe.
É a segunda aldeia mais importante da ilha, também com a sua quota parte de restaurantes, lojas e o templo Tin Hau da praxe.
Enquanto o sol se preparava para descer no horizonte, as águas espelhavam a idílica realidade daquelas paragens.

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Do outro lado do canal, a uns escassos 4 km, a zona residencial de Aberdeen.
Escassa distância, mas um universo de diferença.


No caminho para o cais, os restaurantes estavam praticamente vazios, já se procedia à arrumação.
Um ambiente de satisfação rodeava o cais, gente de todo o mundo com um ar feliz pela generosidade natural da zona e do clima afável.
Tudo à espera do barco que nos iria levar de novo à confusão da metrópole urbana de Hong Kong.
A bilheteira estava fechada, e não existiam torniquetes, o que me fez alguma confusão, pois ao contrário de mim ( que usei o cartão Octopus ) muita gente tinha bilhetes na mão.
Dúvidas dissipadas numa conversa agradável com um casal Australiano.
A viagem seria paga à saída do barco. Claro.

Estava passada mais uma tarde...